Chegaram os dias mais musicais do ano. A 72º edição do Festival de Sanremo começou nesta terça-feira (1º) e eu conto aqui um resumão de tudo o que aconteceu.
1) A primeira reação positiva é a de ver o Teatro Ariston novamente com plateia. Ao entrar no palco, Amadeus, que comanda pelo terceiro ano consecutivo, teve que conter a emoção. Em 2021, as poltronas estavam vazias.
2) O primeiro concorrente foi Achille Lauro, que apresentou a música “Domenica”. É um artista que tem crescido muito e merece ser bem observado. Enquanto muitos aguardavam pelo figurino sempre extravagante do cantor, eis que ele apareceu sem camisa. Ao fim da performance, Achille despejou água no rosto e no corpo como um ritual de batismo. A outra polêmica, que pode tirá-lo do pódio, diz respeito à semelhança com uma outra música dele: Rolls Royce, lançada em 2019. Ou seja, parte do público entendeu como pouca novidade.
3) Gianni Morandi, na minha opinião, mandou muito bem com “Apri tutte le porte’, escrita por Jovanotti. Pode não estar entre as favoritas, mas trouxe o cantor de volta com aquela energia de guri. A canção é bem ao estilo dele. Dá a impressão de que veio direto dos anos 60, embora tenha buscado uma mensagem bem atual. Isso pode jogar contra, no sentido de que não apresentou algo revolucionário, se comparado a si mesmo.
4) Um dos momentos mais marcantes foi o retorno da banda Måneskin. Há menos de um ano, eles estavam no palco conquistando o Festival e prontos para decolar de forma meteórica em todo o mundo. Amadeus desceu do palco, foi até a rua, entrou naqueles carrinhos elétricos, foi até a esquina, encontrou o grupo e trouxe o quarteto de carona pelas ruas até o palco. Damiano David, Victoria De Angelis, Thomas Raggi e Ethan Torchio cantaram “Zitti e Buoni”, com a qual venceram em 2021. Momentos depois, voltaram para cantar “Coraline”. Damiano não conseguiu segurar as lágrimas. Foram aplaudidos de pé.
5) “Brividi”, de Mahmood (campeão em 2019) com Blanco, largou em primeiro na classificação parcial. Não faltam elogios à música e à interpretação de ambos.
6) Massimo Ranieri foi mais um ícone da música (e ex-vencedor) a concorrer. É uma outra categoria, não adianta. “Lettera al di là del mare” tem uma letra bastante forte. Creio que vou gostar ainda mais quando ouvi-la mais vezes.
7) Tenista italiano Matteo Berrettini, o sexto no ranking mundial, esteve entre os convidados.
8) Amadeus, em alguns momentos, dividiu o palco com Rosario Fiorello, que é um show à parte. Por serem amigos há mais de 30 anos, sobra entrosamento entre os dois. Teve piada com o presidente reeleito Sergio Mattarella e contra as pessoas contrárias à vacinação.
9) La Rappresentante di Lista trouxeram, até aqui, a música mais chiclete: “Ciao Ciao”, apesar de ter um palavrão (“culo”) no refrão. Deve ficar entre os primeiros.
10) A minha maior surpresa foi o rapper Danger D’Amico. Eu adorei! Ele apresentou “Dove si balla”, que já ficou entre as favoritas. Mesmo que não vença, dá para garantir que será uma das músicas mais tocadas nas rádios italianas durante todo o ano. No ano passado, ocorreu isso com Colapesce e Dimartino, que não venceram o festival, porém “Musica Leggerissima” virou um verdadeiro hit. Por sinal, eles participaram desse primeiro dia, cantando justamente essa música a bordo de um cruzeiro de uma companhia patrocinadora. Imagens aéreas mostraram um palco dentro do navio. Quem os anunciou foi Orietta Berti.
Que venham os próximos concorrentes e as novas emoções do Festival, que está só começando.
Fotos: Reprodução/RAI